Nas Entrelinhas |
Autor(es): Denise Rothenburg |
Correio Braziliense - 06/09/2012 |
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Deputados e senadores já foram avisados pelos técnicos de que a Lei Orçamentária de 2013 será, na prática, realizada no ano seguinte, temporada de eleições. E o grande vilão é o estoque de restos a pagar, uma conta que já representa um orçamento paralelo O grande vilão de todo esse processo é o que os técnicos chamam de estoque de restos a pagar de anos anteriores. Essa conta cresce como bolo que vai ao forno com boa massa e bom fermento. Este ano, chegamos a R$ 141 bilhões de restos a pagar inscritos. Ou seja, existe um orçamento paralelo àquele que está em execução, daí as dificuldades do governo de fechar a conta, uma vez que a receita para quitar os restos a pagar e o Orçamento de 2012, por exemplo, é a mesma. Quem tiver o cuidado de avaliar que conta o governo escolhe na hora de pagar, verá que a prioridade tem sido os restos a pagar de anos anteriores. Para se ter uma ideia, vejamos os valores dos investimentos, onde estão as principais obras de infraestrutura do país. Até 3 de setembro, o governo pagou R$ 18 bilhões em restos a pagar e R$ 9,3 bilhões dos valores inscritos em investimentos no Orçamento de 2012, praticamente a metade do que quitou em restos a pagar. Ok, está certo, é melhor quitar as dívidas antigas do que fazer investimentos novos. Mas, o problema é que o governo não deixa de prometer investimentos novos num ano. Do total de investimentos autorizados n o Orçamento para 2012, incluindo-se aí os créditos adicionais e os remanejamentos, foram R$ 90,1 bilhões. E deste total, apenas 10,4% foram pagos até agora. Ou seja, o estoque de restos a pagar que ficará para 2013 será grande, o Orçamento do ano que vem só será realizado em 2014, e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) será o relator das promessas a serem cumpridas no ano eleitoral. Por falar em promessas... Se isso fosse problema apenas no que se refere às emendas, seria o de menos. Mas essa história de passar as liberações do Orçamento de um determinado ano para o seguinte atinge hoje todas as áreas do governo e quase todos os programas. Na área de transportes, por exemplo, o estoque de restos a pagar é R$ 11 bilhões, dos quais R$ 4,6 bilhões já foram pagos. É assim também na saúde, na educação, e por aí vai. Diante de tanta conta atrasada, chegará a hora em que o governo terá que deixar de lado as promessas de novas obras e tratar de quitar as obras antigas, os restos a pagar. O problema é que, politicamente, o Congresso só funciona a pleno vapor quando há promessas de liberações de novos recursos, novas obras. Poucos se contentam com a liberação dos restos a pagar. Aliás, virou um vício aceitar o pagamento das emendas em troca de votos no Congresso. Nos Estados Unidos, isso é crime. Aqui, os técnicos já tentaram coibir esse abuso sugerindo dispositivos legais para cessar o toma lá dá cá. O esforço fracassou. Não será surpresa se, em breve, o Supremo Tribunal Federal for chamado a analisar mais esse problema que, tal como o caixa dois de campanha, ganhou, aos poucos, ares de "normalidade". Por falar em STF... |